quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sim... Eu sou deficiente...

Quando se fala em acessibilidade para deficientes, a única preocupação parece estar voltada somente aos cadeirantes. Ainda se "preocupação" fosse sinônimo de trabalho bem feito, seria ótimo! 
Rampas com inclinação irregular e adaptações completamente "sem noção"! E para os deficientes visuais somente sobra o despreparo de quem projetou e aplicou, sem nenhuma informação concreta, aquelas faixas no chão! 
Um grande desrespeito... Não estou querendo dizer que os cadeirantes são privilegiados, muito pelo contrário! Eles têm de se esforçar em dobro para se locomover!
Mas quando se trata de deficiência visual, parece que tudo é feito meio que de "quebra galho", mais claramente dizendo, "nas coxas"!
Deficientes visuais não são somente cegos. Existem vários tipos de deficiência visual, mas ninguém parece se importar muito... O que é errado, pois, como já disse em outro post, a maioria dos deficientes visuais no Brasil não são cegos, mas sim os de baixa visão.

No caso de quem tem Retinose, é mais difícil a compreensão. É 8 ou 80! Ou as pessoas acham que não estamos enxergando nada, ou elas acham que enxergamos e não precisamos de ajuda! Não tem meio termo!


Estou pensando em fazer faculdade, mas confesso que isso me assusta. Não é mais como no colégio, onde tudo é mais tranquilo, quando eu não enxergava a lousa me virava e, no final das contas, era só copiar a lição de alguém!
Além disso, frequentei o colégio há praticamente 10 anos! Minha visão era melhor, meu campo visual era diferente...
Tenho receio de não enxergar a lousa, de ter de me locomover pelos corredores, escadas e elevadores escuros, de ter de ficar explicando pra todo mundo o meu problema.
É aí que eu digo que ninguém pensa em acessibilidade de um modo geral! Pra que fazer um elevador escuro? Como pode deixar áreas de grade circulação e degraus pouco iluminados?
Minha revolta não é só porque não enxergo no escuro, mas já imaginou em um momento de pânico, do qual todos têm de sair correndo? 
E as lousas? Uma pior que a outra! Agora deram de implantar lousas brancas... Isso é um horror! Com aquelas canetas de ponta fina... Já era difícil enxergar a espessura do giz, imagina de uma caneta? Fora que, não sei o que acontece, tem professor que usa a caneta até o talo! O negócio já tá com a tinta quase sumindo e ele insiste em usar, só pra dificultar mais a minha vida!

Se eu mexesse com esse negócio de acessibilidades, iria sugerir, literalmente falando, um quadro negro! Preto com o giz ou a caneta branca, bem grossa! Pronto! Meus problemas de enxergar a lousa estariam resolvidos!
Mas se fosse simples assim...
Por isso tenho medo... Um medo que ninguém, de fato, entende... Ter de trocar de salas, ir à sala de vídeo assistir imagens que nao vejo, apresentações no escuro, fazer papel de idiota.... 
Fico me perguntando se sou forte o suficiente para encarar meus medos... 
Sei que mtas pessoas se sensibilizarão e vão me ajudar, mas o problema de pessoas, como eu, que não sabiam que era deficiente e, de repente, se vê tão dependente dos outros, é que tudo isso parece piedade... ou sei lá, uma espécie de submissão...
Eh dificil explicar... só uma angustia que me envolve depois que o dia acaba... Uma Sensação de impotência... Tristeza... 
Eu sei que devo agradecer por enxergar o que enxergo, afinal ainda não sou cega, mas é dificil às vezes... Todos temos nossos dias de recaída né...
Mas não é a primeira vez, nem será a última... Eu sei que vai passar...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Estabelecimentos sem iluminação...

Recentemente, prestei vestibular em uma faculdade bem popular aqui em São Paulo. 
Não vou citar nomes, mas eu sei que me causou as piores das impressões possíveis!
Primeiro porque, na entrada, já fui barrada um por um seguranca desinformado: "aonde você vai?".
isso é jeito de abordar alguém? O que houve com o "pois não, posso ajudá-la?".

Então eu disse que precisava prestar o vestibular, que havia sido agendado. 
Ele, então, pergunta: "é aqui?".
E eu penso: "É logico que é aqui! Onde mais poderia ser? Eu tava com o endereço na mão, ora bolas!"
Ele então nos deixou entrar (meu fiél e escudeiro marido me acompanhou!)
Imaginei que seria um lugar de fácil acesso, afinal, no impresso dizia "andar térreo, na sala de relacionamento de alunos".
O segurança havia falado que era só descer a rampa. 
Ok! Adoro rampas! Não preciso me preocupar se vou cair!
Tá. Desci a rampa, e agora?
Tinha uma sala com uns funcionarios dentro e imaginei que seria ali. Ao perguntar onde era a sala para fazer a prova ela diz: "Você contiua descendo a rampa, desce mais outra, vai ter uma escadinha, você desce, vira pra esquerda, depois direita, hoje tem um evento no pátio, então você vai fazer o contorno, sobe uma escadinha, entra à direita e pronto!"
SIMPLES ASSIM!
A essa altura eu já tava perdida só de imaginar o caminho! 
Porra, essa prova não era no térreo? 
Na verdade era! Só que, pra chegar ate lá, você desce um monte, depois sobe outro monte!
Fiquei imaginando quem era cadeirante.... Se eu já sofri daquele jeito...
Bom, é lógico que, já na primeira "esquerda", eu ja estava perdida! Então, segui a barulheira do tal evento q estava acontecendo... Mas que ideia, um evento barulhento daqueles num dia de prova!?
Então, nos informamos mais umas 2 vezes e, enfim, chegamos até a bendita sala!
Para o meu desespero, a sala era escura! Escura demais! 
Parecia aquelas iluminações de balcão de barzinho!
Não falei nada, mas acho que a recepcionista notou que eu tinha algum problema! Ela viu minha dificuldade em assinar a ficha... Eu parecia uma analfabeta!
Para minha surpresa, a prova era no computador, numa sala tão escura quanto a recepção.
Achei um desrespeito, pois geralmente vestibulares são exigentes em relação a horários... E, por ser uma prova agendada, imaginei que não seria diferente... 
Engano o meu! A prova comecou 20 minutos depois...
Nem preciso dizer que fiquei totalmente perdida!
A recepcionista entrou na sala de informatica e foi chamando um a um. Só que, quando eu me levantei e tentei me posicionar, seguindo algumas pessoas, acabei entrando no comeco da fila, ou seja, "a fura fila".
E ainda fiquei virada do contrário, achando que eu era a última da fila... OUTRO MICÃO NA MINHA VIDA...
Achei que a fila começava do outro lado e fiquei de costas! Sem ver nada, me dei conta que tava de frente pra menina de trás! rs
Para minha tristeza, ela não percebeu que eu não estava enxergando e me ironizou... Ela estava com uma amiga e eu entrei bem no meio.... 
Então ela disse: "ah meu Deus... tudo bem, pode entrar na minha frente!".
Depois ela virou pra amiga e disse: "não, não pode não, sai daí!".

Me senti tão mal.... A pior das piores... Além de não enxergar nada, ainda furei fila e fui ironizada... 
Fora que depois a mesma menina me cutucou falando "oh, tão te chamando já" (não vi porque eu estava de costas).
Tive que redigir minha redação naquela mesa apertada e mal iluminada... 
As letras do computador estavam ruim de ler e o monitor estava mto longe! Quase subi na mesa para poder ler!
Minha vontade era de sair correndo, mas como eu já havia pago... Vamos lá, fazer o quê?
Só sei que nunca mais eu volto lá! 
Detestei a falta de organizacao e acessibilidade da faculdade...
Infelizmente, ainda sou minoria em reclamar disso. Pra eles seria só um caso isolado....
Nesse dia, minha auto-estima foi lá embaixo... 
Acho que por causa da ironia daquela menina... Por que as pessoas fazem isso?

Primeiro grande mico!

Já vivi váaaarios grandes micos na minha vida... Muitos acabam virando arquivo morto por serem tão corriqueiros! 
Mas sabe aqueles clássicos? Aqueles que nem a gente acredita que fez? 
Ah, esses ficam na memória pro resto da vida!

Lembro de um dos meus primeiros micos... 
É... 
Eu estava na sexta série. 
Naquela época eu ainda enxergava razoavelmente bem. Só a miopia que era braba!
Eu estudava em uma escola municipal, então já dá pra imaginar que não era um mar de rosas!
Vira e mexe eu sujava meus livros e cadernos porque algum individuo deixava bala, chiclete, caquinha de nariz, enfim... Podia se encontrar de tudo embaixo das carteiras! Mas ainda não é esse o ponto do qual quero chegar...
Certo dia, vi uma borracha caída no chão, perto da carteira de uma colega. Exitei, pensei... Mas aquela borracha azul caída ali estava me incomodando! Então resolvi pegá-la e perguntar para minha colega: "essa borracha eh sua?"
Ela, então, me olhou com uma cara de espanto, depois com uma cara de nojo  e, por fim, com uma risada incessante ela me diz: "isso aí é um chiclete!".
Na hora taquei aquele chiclete longe e me senti a maior idiota de todo o mundo!!! Jurei para mim mesma que nunca mais iria pegar nada do chão, independente do que fosse! 

Mas... O que ela tá fazendo?

Uma pergunta clássica: "o que ela tá fazendo?"

É impossível não se sentir uma idiota depois dessa pergunta! 
Ela sempre vem seguida de algum mico ou momento inusitado.
Uma vez fui ao shopping com minhas amigas. Eu não sei que mania que esses designers de interiores têm de colocar espelhos para ampliar locais apertados!
Entrei num corredor que havia lojas somente do lado direito e do lado esquerdo era um espelho do chão ao teto! Não sei o que acontece com meu cérebro, mas tenho a tendência de sempre ir para a direção errada!
Você deve estar pensando que eu dei de cara com o espelho né?
Quase isso! Eu fui a direção do espelho, mas como sempre ando olhando para o chão (para não tropeçar), ao me aproximar do espelho, o meu reflexo apareceu. E eu achei que era uma pessoa! 
Imagina o mico! Eu ia para um lado e a tal pessoa ia também! Ia pro outro lado e a tal pessoa ia também! 
Detalhe: a "tal pessoa" era o meu reflexo! 
Cheguei até a dar um sorrisinho e pedir desculpas! 
Só me dei conta do micão que eu tava pagando quando ouvi uma das minhas amigas dizendo: "mas o que ela ta fazendo?"
Lógico que depois isso rendeu boas risadas! 
Eu dançando na frente do espelho!...
Pelo menos eu sou uma pessoa educada e peço desculpas quando vejo que estou atrapalhando! rs

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Sem noção...

Nunca tive muita noção do grau dessa doença. Na verdade, me sinto mal só de pensar que sou considerada deficiente. É estranho pensar que sempre tive uma vida, relativamente, nornal e, de repente, os médicos dizem que sou considerada deficiente visual.
O último médico que fui disse que tenho de 10% a 15% da visão total, considerando acuidade, campo visual e todas consequências da doença, como as "moscas voadoras" e a distorção de cores...
Sinceramente, acho um exagero generalizado.... 
Eles sabem que a doenca traz todas essas consequências e generalizam... Eu sei que tenho minhas limitações, mas não creio que enxergo somente 10%!
Uns tempos atrás, comecei, então, a procurar vagas de emprego para deficentes.
Acho que, pelo fato da retinose atacar somente a retina e, aparentemente, não demonstrarmos nenhuma manifestação aparente da doença, ninguém bota muita fé!
Na sala de seleção, os outros candidatos (a maioria com deficiências aparentes, como as congenitas, por exemplo) ficaram me questionando qual era minha deficiencia.
* apenas uma observação: os candidados à vaga pareciam disputar, não apenas a vaga, mas quem era mais "defeituoso" como se o mais "defeituoso" fosse o mais carente de piedade para conquistar àquela vaga. Eu sei, pode ser maldade minha, mas foi assim que analisei aquela situação.

Bom, voltando...
Como uso óculos comum e minha lente nem é tão grossa, as pessoas se espantam quando falo que minha deficiência é visual.
Pessoas sem noção acham que deficiência visual é só quem é cego... Aliás, aproveito para dizer aqui que, no Brasil, a maioria dos deficientes visuais não são cegos; são aqueles que têm baixa visão.
Por esse motivo ainda me sinto mal ao ingressar numa candidatura de vaga para deficiente...
Mas continuando, no meio da seleção, pediram para mudar de sala. Fui, então, seguindo o povo, só que, no meio de tantos degraus e rampas e portas, acabei me perdendo! Quando fui ver, tava indo na direção errada e ouvi ao fundo: "aonde ela tá indo?"
Incrivel, né! 
Um RH que seleciona deficientes e nem se preocupam com a acessibilidade, muito menos em conduzir adequadamente seus candidatos! Totalmente SEM NOÇÃO!

Fora que eu deixei explicito que minha principal dificuldade era em enxergar em ambientes escuros, ou seja, à noite... 
E os caras me liberaram só às 18h! Cheguei às 13hs...
Imagina o desespero do meu marido tentando me ligar, e eu sem poder atenter, afinal eu tenho postura ética e sei que numa entrevista de emprego não se usa o celular!
Quando eu achei que já ia terminar, eles aparecem com mais uma prova que iria me ocupar, pelo menos, mais 1 hora!
Dessa vez, pedi licença e liguei pro meu marido, que já estava subindo pelas paredes de preocupacao! Acho que foi por isso que não passei... rs

Agora eu pergunto: Qual a preocupação dessas empresas de RH? Ganhar seu "pontinho" ao conseguir colocar o deficiente no mercado de trabalho? 
Essa foi minha primeira e ÚLTIMA entrevista para deficiente... me senti totalmente desconfortada... 
Ninguém deu assistência alguma! A única preocupação deles era em não perder o cliente... Ou seja, a empresa que queria contratar. Não vi solidariedade nenhuma e um total desrespeito...
O problema de quem tem Retinose é esse: aparentemente, você é uma pessoa normal... Quem vê, acha que estamos fingindo ou mentindo!